terça-feira, 6 de abril de 2010

Forte de S. Vicente (Ermida), Torres Vedras

Para os amadores da História de Portugal (e todos sabemos que somos muitos...), fica aqui a notícia de que nos próximos dias 17 e 18 de Abril, elementos da Associação Napoleónica Portuguesa (ANP) e do Grupo de Recriação Histórica do Município de Almeida (GRHMA) irão formar um acampamento histórico-militar no Forte de S. Vicente, em Torres Vedras, com vista a reconstituir a vivência e o dia-a-dia de uma guarnição do século XIX de um dos Fortes daquela que foi porventura a maior obra de engenharia militar jamais feita em Portugal Continental: as chamadas Linhas de Torres.
Peço a vossa licença para não me alongar acerca da justificação, enquadramento histórico e características das Linhas de Torres (aliás, para isso é que existe a Wikipédia, certo?), para centrar a minha atenção no Forte de S. Vicente.
Trata-se de um dos maiores e mais importante redutos daquele complexo defensivo, que na sua dimensão original se estendeu por cerca de 80 Km e protegeu centenas de milhares dos nossos antepassados, que no respectivo interior (do complexo defensivo) procuraram refúgio contra o avanço das tropas francesas, a partir de meados do ano de 1810 e no decurso da 3ª Invasão Francesa, comandada pelo General André Massena, Duque de Rivoli, Príncipe de Essling, Marechal do Império e detentor de outros títulos que atestavam tanto uma elevada competência, a nível militar, como a total falta de escrúpulos do respectivo detentor - que apesar de tudo não o livraram de levar um enxerto de porrada frente ao Wellington...
Este espaço tem vindo a ser objecto de um interessante projecto de recuperação da iniciativa da Câmara Municipal de Torres Vedras, integrado nas comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras. Aliás, a participação da ANP e do GRHMA neste evento faz-se sob a égide precisamente desta Câmara Municipal.
O Forte de S. Vicente é composto por 3 redutos, que originalmente comunicavam entre si por pontes levadiças (por óbvios motivos...) colocadas sobre os fossos que os separavam e deve o seu nome à Ermida erguida a S. Vicente, que se encontra implantada no local. O espaço físico em questão seria supostamente suficiente para albergar uma guarnição de cerca de 4 mil homens - mas como só lá para o ano de 3010 é que vamos ter essa malta toda a participar em recriações históricas em Portugal, uma guarnição de cerca de 30 homens (e mulheres) terá de ser suficiente.
Irão ser montadas tendas militares (de época) e irá recriar-se, na medida do possível, um ambiente de guarnição, com rondas e sentinelas, exercícios de ordem unida e, claro, tiros de mosquete e de canhão q.b.
O espaço em questão estará aberto a visitas por parte do público em geral.
O programa do evento pode ser consultado em:
PC

3 comentários:

  1. Excelente evento.

    Deixe-me no entanto fazer um pequeno comentário.
    Embora a maioria dos Portugueses estivessem contra os Franceses, haviam muitos que estavam do lado dos ideais da revolução Francesa e ajudaram os Franceses no que chamamos as invasões napoleónicas. Acompanhando Masséna estava o Marquês de Alorna que proporcionava certas informações vitais na incursão no território Português. Não esquecer que foram estas pessoas que vinte anos mais tarde ganharam a guerra civil.

    O que me levou fazer este comentário foi a frase: "detentor de outros títulos que atestavam tanto uma elevada competência, a nível militar, como a total falta de escrúpulos do respectivo detentor". Na minha opinião era um bom militar, dos melhores que o "Ogre" tinha ao seu dispor, que estava apenas a cumprir a sua obrigação como militar ao serviço do seu país. Não esquecer que um mês depois de Essling, na batalha de Wagram existia uma divisão Portugueses ao lado de Masséna.

    Quanto à porrada que Masséna apanhou, acho que foi mais devido aos paisanos Portugueses, aos guerrilheiros Espanhóis e aos Engenheiros Ingleses do que ao génio táctico de Wellington. No terreno estes dois lideres encontraram-se apenas, pelo que sei, no Buçaco e em Fuentes de Onoro. Em Fuentes foi considerado um empate técnico. No Buçaco o Masséna apanhou tareia mas ficou com o campo de batalha e continuou a perseguir o adversário.

    -LPP

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  2. Boa!
    Até que enfim há um comentador a dar "luta"!
    Tens toda a razão quando defendes o mérito militar do Massena. Mas também em relação a este General podemos dizer que "foi de vitória em vitória, até à derrota final".
    A referência à "falta de escrúpulos" tem a ver com o cuidado que o Massena tinha em roubar, em proveito pessoal, tudo o que de valor havia pelas terras por onde passava.
    Tens razão quando referes os factores que tb contribuiram para a derrota do Massena. Faltou mencionar o "tempo" dispensado à nova amante (as tropas francesas apelidaram-na "A Galinha de Massena"), que levava nesta invasão e que contribuiu para ele esquecer alguns deveres militares...
    PC

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  3. Sim, concordo. Mas não foi o único a agarrar o que não era dele. Mesmo os "gentlemen" ofereceram os seus barquitos ao Junot para levar os "seus pertences" para casa.

    Não creio que apenas tenha sido a "galinha" a amansar Masséna. Acho que a impetuosidade que teve ao atacar o Buçaco perdeu-se com o desfecho da batalha, afectando largamente a sua iniciativa. Acho que um conjunto de factores, incluindo a "sorte" de Wellington encontrar as encostas do Buçaco, a falta de convicção da capacidade das tropas Portuguesas, o nevoeiro que ajudou a não avaliação correcta das posições aliadas, deram um rude golpe na sua confiança. Além disso, o reconhecimento tardio de um caminho que possibilitava o flanqueamento das tropas aliadas levou a se tornar demasiado prudente.

    Quando chegou às linhas de torres ficou demasiado indeciso, perdendo muito tempo e ao mesmo tempo sofrendo o atrito causado pelas longas linhas de abastecimento, sempre emboscadas pelos Portugueses e Espanhóis.

    Outro factor que largamente contribuiu para o falhanço da invasão foi o facto de ter como subordinado o impetuoso Marechal Ney. Principalmente depois do Buçaco, o ímpeto do Bravo, mas penso que por vezes imprudente, Ney contrastava e entra em conflito com a crescente prudência de Masséna. Além do conflito de ideias, para Ney era difícil de se encontrar subordinado a um seu par que tinha chegado ao marechalato na mesma altura.

    (Já agora peço desculpa de estar a sair um bocadinho do âmbito do post.)

    -LPP

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